Talibã: De Combatentes da Guerra Fria a Senhores do Afeganistão
Combatentes do Talibã [© Reuters]
O Talibã, esse nome que hoje evoca imagens de guerra, fanatismo e repressão, nasceu de um contexto completamente diferente do que imaginamos à primeira vista. Antes de ser um dos grupos fundamentalistas mais temidos do mundo, o Talibã surgiu como uma resposta à invasão soviética no Afeganistão, nos anos 1970 e 80. A ideia inicial? Lutar pela liberdade contra um inimigo estrangeiro poderoso. Mas será que as coisas saíram como o esperado?
O cenário que preparou o terreno para o Talibã
Para entender o surgimento do Talibã, é preciso voltar um pouco no tempo e olhar para a Guerra Fria. Nos anos 1970, o Afeganistão era um país que os soviéticos queriam manter sob influência. Em 1979, a União Soviética invadiu o território afegão para sustentar um governo comunista aliado de Moscou. Só que os afegãos não aceitaram isso tão facilmente. Foi aí que começaram a surgir os mujahidin, grupos armados islâmicos que viam os soviéticos como invasores e estavam dispostos a tudo para expulsá-los.
E adivinha quem decidiu ajudar esses guerreiros? Os Estados Unidos. Isso mesmo: a CIA entrou na jogada financiando e armando os mujahidin através do Paquistão. O objetivo era claro: enfraquecer a União Soviética em plena Guerra Fria. Só que essa jogada política teve consequências que ninguém imaginava na época. O Talibã ainda não existia, mas as sementes do movimento estavam sendo plantadas ali.
O nascimento de uma ideologia extremista
Os mujahidin não eram um grupo homogêneo. Pelo contrário, eram várias facções com visões diferentes sobre o futuro do Afeganistão. Mas entre eles, um pensamento mais radical começou a ganhar força: o desejo de criar um Estado islâmico baseado numa interpretação rigorosa da sharia, a lei islâmica.
Depois que os soviéticos foram derrotados e saíram do Afeganistão em 1989, o país mergulhou em um caos político. Grupos diferentes começaram a lutar pelo poder, e a guerra civil tomou conta. Foi nesse contexto que surgiu o Talibã, na década de 1990, formado principalmente por ex-mujahidin e jovens estudantes islâmicos (o próprio nome “Talibã” significa “estudantes” em pashto). Eles vieram com um discurso forte: acabar com a corrupção e trazer ordem ao país. Mas essa ordem viria com um custo altíssimo.
Da luta contra os soviéticos ao controle absoluto
O Talibã cresceu rápido. Em 1996, eles tomaram Cabul, a capital, e instauraram um regime extremamente rígido. O que começou como uma promessa de estabilidade logo se transformou num pesadelo para muitos afegãos. Mulheres foram proibidas de estudar e trabalhar, punições brutais se tornaram comuns, e qualquer influência ocidental foi banida.
A ironia histórica? O mesmo Ocidente que ajudou a financiar os combatentes contra os soviéticos agora os via como um inimigo perigoso. No começo dos anos 2000, o Talibã já abrigava grupos terroristas, incluindo a Al-Qaeda, que orquestrou os ataques de 11 de setembro. Isso levou à invasão americana do Afeganistão em 2001 e à queda do regime talibã. Mas, como sabemos, essa não foi a última página dessa história.
E hoje, o que ficou dessa origem?
O Talibã voltou ao poder em 2021, depois da retirada das tropas americanas. Mas será que o grupo ainda é o mesmo daqueles que lutaram contra os soviéticos? Ou será que, de alguma forma, evoluíram? O que começou como uma resistência contra uma superpotência virou um regime fundamentalista que controla um país inteiro.
A história do Talibã é um exemplo claro de como guerras e alianças podem ter desdobramentos inesperados. Quem diria que um grupo armado treinado para combater os soviéticos acabaria se tornando um dos maiores desafios do século XXI? A verdade é que, no tabuleiro da geopolítica, nem sempre os jogadores controlam o jogo.
Fonte: Talibã – Wikipédia / Afeganistão: O que é o Talebã? – BBC News Brasil / O que é o Talibã | Mundo | G1 / Mujahidin – Wikipédia